domingo, 15 de julho de 2012

Mars Science Laboratory

CRÉDITO DAS IMAGENS: NASA/JPL-Caltech

crédito: NASA/JPL

Um vento frio carrega pequenos grãos de poeira, a única coisa a interromper o silêncio do deserto. Está muito frio, mas isso é rotina. Nenhum sinal de vida em quilômetros. Nada. TUM TUM, um barulho quebra a monotonia deste lugar, resultado de uma onde de choque, produzida por um objeto atravessando a alta atmosfera em Mach 30. Ele brilha, como um meteorito. Claramente não pertence a este planeta. Vindo do espaço interplanetário, após muito tempo e milhões de quilômetros percorridos desde que deixou seu local de origem.
Após sua velocidade atingir valores supersônicos, sua parte inferior desprende-se, revelando alguma coisa branca e seu interior. Em seguida um gigantesco paraquedas é liberado quando o objeto estranho atinge Mach 2. É o maior paraquedas já visto por aqui. Eles voltaram! Não eram vistos por aqui há dois anos, quando outro objeto semelhante foi visto nas gélidas terras do norte, acima de 60° de latitude.
Ao sair do voo supersônico o objeto branco no seu interior caiu. É possível ouvir um ruído forte típico destes objetos. O objeto do norte também produziu ruído semelhante, além de luz, antes de tocar o solo.  Ainda desacelerando ele dirige-se para uma grande cratera de impacto, sumindo de minha vista.
Se tudo correr bem esta cadeia de eventos ocorrerá no dia 5 de Agosto, quando a sonda Curiosity, a mais complexa sonda espacial já construída pela NASA, chegar a Marte. Após anos de construção, 2,5 bilhões de dólares e uma viagem de mais de 200 milhões de quilômetros a sonda, ou seus restos flamejantes, tocarão o solo avermelhado no interior da Cratera Gale, próximo à planície Elysium.

Para conhecer mais detalhes deste incrível robô continue lendo este artigo.

Estrutura

Esquerda: Diagrama da sonda, com seus instrumentos e ferramentas. Direita: Comparação com uma pessoa de 172,72 cm de altura.

A estrutura principal do robô pode ser dividida em 5 partes: A Warm Electronics Box (WEB), o braço robótico, suspensão e rodas, mastro e a bateria nuclear (MMRTG).

Warm Eletronics Box (WEB)

Este compartimento, o corpo do veículo, protege todos os equipamentos eletrônicos sensíveis a temperatura e radiação, além de servir de ponto central de montagem para todos os outros componentes. Para manter a temperatura interna entre -40°C e 50°C, enquanto ela varia entre +30° to −127 °C as paredes são isoladas termicamente com Aerogel. Quando é necessário, um sistema de 60 metros de tubos , o sistema de rejeição de calor (HRS), pode transportar calor produzido por outros componentes eletrônicos, alimentar o interior da WEB com calor liberado pelo gerador de radioisótopos ou, quando nenhuma das alternativas é suficiente, usando aquecedores elétricos. No sentido oposto, o HRS pode liberar calor para a atmosfera se os componentes estiverem muito quentes.
No interior WEB estão localizados a aviônica do Curiosity (os computadores, rádios, baterias, sistemas de potência e etc.) e alguns instrumentos importantes, como o Chemistry and Mineralogy (CheMin), Sample Analysis at Mars (SAM), Radiation assessment detector (RAD) e Dynamic albedo of neutrons (DAN). Sobre ela estão sensores ultravioletas, o mastro, as antenas , o eixo deferencial da supensão e as portas do CheMin e do SAM. Na face frontal estão o braço robótico e câmeras de navegação. Nas faces laterais estão as supensões e na face traseira está o MMRTG e mais câmeras de navegação.

Braço Robótico












Comprimento: 2,2 metros
Massa: 101 kg (34kg da plataforma de instrumentos)
Diâmetro da plataforma: 60 cm
Instrumentos: 2 (MAHLI e APXS)
Ferramentas: 3 (DRT, Sa/SPaH e PADS)
Graus de liberdade: 5
Composição: Titânio 6AL-4VF


Responsável por boa parte das pesquisas, o braço robótico possui 2,2 metros de extensão, da base até o centro da plataforma de instrumentos, 64 kg, 10 metros de fios, que carregam 920 sinais diferentes e carrega uma plataforma de instrumentos giratória de 34 kg, com 2 instrumentos e 3 ferramentas para processamento de rochas e aquisição de amostras. Seus atuadores são movidos por motores elétricos sem escovas, ligados a caixas de redução para aumentar o torque. Eles são lubrificados com Dissulfato de Molibidênio (MoS2), um lubrificante seco, que dispensa aquecimento para funcionar. O braço foi projetado para trabalhar num espaço cilíndrico de 80 cm de diâmetro e 1 metro de altura. Este cilindro está posicionado 105 cm a frente do robô e pode estender-se 20 cm abaixo do solo em superfície plana. Durante a viagem o braço fica localizado sobre uma plataforma de alumínio (7075), a qual também pode recolher o braço passivamente após seu uso.
Em sua plataforma de instrumentos estão dois instrumentos de contato: o MAHLI (Mars Hand Lens Imager), uma câmera para adquirir imagens microscópicas e o APXS (Alpha Particle and X-Ray Spectrometer), para descobrir a composição dos materiais analisados.

Para obter amostras de solo o braço robótica dispõe de duas ferramentas. O PADS (Powder Acquisiton Drill System) é uma broca de percussão, de 1,6 cm de diâmetro, capaz de atingir uma profundidade de 5cm em uma rocha. Caso a broca fique muito desgastada ou presa em uma rocha, ela é liberada e o braço robótico posiciona o PADS para pegar uma das brocas sobressalentes, armazenadas na frente do robô. O CHIMRA (Collection and Handling for In-situ  Rock Analysis) consiste em uma pá, no formato de concha, que recolhe amostras de solo e de rochas. Uma série de compartimentos processa a amostra recolhida. Para isso o braço robótico muda diversas vezes a orientação da plataforma de instrumentos, e, auxiliada por um motor de vibração, faz a amostra atravessar uma das duas peneiras. Uma das peneiras retira partículas maiores que 1mm e a outra retira partículas com mais de 150 microns de diâmetro. As amostras do PADS e do CHIMRA são enviadas para dois lugares. O primeiro sãl os instrumentos SAM e CheMin. O braço posiciona a plataforma sobre três pequenas portas (2 para o SAM e 1 para o CheMin), controladas por motores elétricos, que levam aos instrumentos. O segundo é uma plataforma de observação, na parte superior, onde as amostras processadas podem ser analisadas pelo MAHLI e pelo APXS.

A terceira ferramente é o DRT (Dust Removal Tool). Semelhante ao RAT (Rock Abrasion Tool) das sondas Spirit e Opportunity, ela retira a camada superficial das rochas escovando-a com cerdas de metal giratórias. Além disso ela também pode ser usada para limpar a plataforma de observação.

Para prover a comunicação entre os dispositivos e o computador central foram utilizados 10 metros de cabos planos, muito flexíveis e que possibilitam que cada sinal tenha uma voltagem diferente. Os cabos responsáveis pelos sinais de vídeo do MAHLI possuem impedância de 75 Ohms. Nas articulações do braço robótico os cabos são enrolados numa estrutura que parecem um carretel, estendendo-se conforme necessário.





Mastro




Altura (do topo a superfície): 2,1 metros
Câmeras: 6 (Mastcam 34, Mastcam 100 e 4 câmeras de navegação)
Instrumentos: 3 (ChemCam e 2 REMS)

O mastro, assim como em outras missões, carrega câmeras de alta resolução, para obter imagens individuais e panoramas das proximidades da sonda. Para obter essas imagens a Curiosity conta com duas câmeras de 2MP: A Medium Angle Camera (Mastcam 34 ou M34) e a Narrow Angle Camera (Mastcam 100 ou M100). A distância entre seus centros é de 25 cm. A M34 pode obter panoramas em 25 minutos, com um total de 150 imagens. Já a M100 é utilizada para procurar e caracterizar lugares interessantes para pesquisa.
Nas laterais estão dois pares de câmeras de navegação, utilizadas para obter montar uma representação em 3D das imediações da sonda. Essa representação é usada pelos computadores de bordo para decidir o melhor caminho a ser percorrido.
Sobre as câmeras está o Remote Warm Electronics Box (RWEB), um pequeno compartimento isolado termicamente, com aquecimento elétrico, que abriga o instrumento ChemCam. Ele é utilizado para caracterizar elementos químicos das rochas. Um disparo de um laser infravermelho (de 1067 nm) com 5 nanosegundos de duração aquece uma pequena área de uma rocha até ela tornar-se incandescente. Uma câmera capta a luz emitida por esse instrumento e obtém dela um espectro, do qual é possível descobrir os elementos químicos individuais.
Na estrutura de suporte estão dos sensores do Rover Environmental Monitoring System (REMS), instrumento para obter informações meteorológicas do lugar de onde o robô estará.  Os dois sensores foram montados a 120° um do outro. Assim a combinação da leitura fornece, com ajuda da "sombra" fornecida pelo mastro, a velocidade e a direção do vento. Além dessas medidas ele também obtém pressão atmosférica, umidade e temperatura, tanto do ar como do solo.
Durante a viagem até Marte o mastro permanece deitado sobre o corpo da sonda (sobre a WEB). Alguns minutos após o pouso um motor elétrico na base do mastro o ergue até a posição vertical, onde ficará permanentemente. A plataforma das câmeras pode se movimentar nos eixos vertical (362° entre os limites físicos) e horizontal (+91° e - 87°). Durante o período de "sono" da sonda, ao fim do dia marciano, a plataforma aponta para baixo, evitando que as lentes acumulem poeira.








Suspensão e Rodas




Número de rodas: 6
Diâmetro: 50 cm
Material: Alumínio (rodas)
               Titânio (suspensão)
Velocidade máxima: 4cm/s
Velocidade média: 2cm/s


A superfície marciana é muito irregular, composta predominantemente de areia e cheia de rochas de tamanho variado. Uma suspensão de um automóvel comum não seria eficiente lá. Com esse problema em mente os engenheiros da NASA criaram um modelo de suspensão chamado Rocker-bogie, usado pela primeira vez no robô Sojourner, que pousou em Marte em 1997 durante a missão Mars Pathfinder, e também nos robôs gêmeos Spirit e Opportunity, em marte desde 2004. Usando seis rodas essa suspensão pode manter todas as rodas em contato com o solo, mesmo passando sobre obstáculos com 1,5 vezes a altura da roda, enquanto o corpo principal movimenta-se muito pouco.

Para esta sonda foram construídas rodas de alumínio de 50 cm de diâmetro, com muitas aletas na parte externa para aumentar a resistência da roda e sua tração no solo arenoso e alguns orifícios. Esses orifícios deixam marcas distintas no trajeto que a sonda percorreu, podendo ser usados para medir a distância percorrida e o quanto as rodas escorregam ao girar. No seu interior suportes curvados de titânio conectam a roda ao eixo de tração e também atenuam choques enquanto passam por terreno acentuado. Em seu centro estão localizados os atuadores das rodas, constituídos de motores de corrente contínua sem escovas e caixas de redução, para aumentar o torque dos motores. Cada roda possui seu próprio motor, que levam a sonda a velocidade máxima de 4 cm/s, porém durante as operações o robô se movimentará a metade desta velocidade.

A suspensão é composta por dois pares de barras metálicas móveis, ligadas através de um eixo diferencial. Em cada lado as barras conectam três todas. A roda traseira é ligada a roda central por uma barra e ela possui um ponto de pivô em seu centro. A roda dianteira é ligada na extremidade uma segunda barra ao corpo do robô e ao pivô da outra barra, na outra extremidade. A conexão entre as barras não é fixa, elas se movem passivamente para manter as rodas em contato com a superfície. A barra superior é conectada ao corpo principal do robô por outra conexão giratória e ela é, também, ligada a barra no outro lado por um eixo diferencial, que faz as barras se moverem em sentidos opostos. As rodas dianteiras e traseiras podem mudar posição, girando para ambos os lados. Graças a essa habilidade a Curiosity pode se mover em linha reta, em arcos e pode girar, para ambos os lados, no mesmo lugar. 







Fonte de Energia
Multi-Mission Radioisotope Thermoelectric Generator








Pela segunda vez uma sonda marciana utilizará uma bateria nuclear. Todas as missões recentes utilizaram painéis solares e, devido a isso, o tempo disponível para a missão primária compreendia poucos meses. A sonda Curiosity será alimentada por um Gerador Termoelétrico de Radioisótopos Multimissão (MMRTG). Esse tipo de gerador utiliza a energia térmica produzida pelo decaimento radioativo de uma carga de dióxido de plutônio-238 para gerar energia elétrica, pelo efeito Seebeck.

Este tipo de gerador tem a vantagem de não depender do sol para gerar sua energia, permitindo que seja utilizado em missões além de Marte, onde a luz solar é muito fraca para alimentar painéis solares (para comparação a missão Juno, lançada em 2011 para Júpiter, possui grandes painéis solares, com 60 m², que produzirão 486 W lá, quando na Terra produziriam entre 12 e 14 kW), e também que a orientação solar constante não seja necessária. Outra vantagem é a produção energia em um nível constante durante a vida operacional do aparelho e que os painéis solares sua performance afetada por acúmulo de poeira.
Baseado no efeito seebeck um RTG produz energia elétrica através de uma diferença de temperatura entre dois materiais condutores (metais ou semicondutores), chamados de termopares.

Um termopar é formado por duas peças metálicas. Uma de suas extremidades são mantidas a temperatura alta. As outras extremidades são mantidas a temperaturas mais baixas. A energia não é gerada nas extremidades, mas ao longo do comprimento dos materiais que estão sujeitos a um gradiente de temperatura. Esse gradiente de temperatura induz os elétrons a migrarem da região mais quente para a mais fria. Acumulados em uma das extremidades do metal, cria-se uma diferença de potencial elétrico, a qual pode ser aproveitada para alimentar um circuito elétrico externo.

A voltagem produzida pelo termopar varia de acordo com a temperatura e com as propriedades dos materiais usados em sua construção. Semicondutores possuem uma eficiência maior por serem construídos com diferenças de cargas elétricas nos materiais que o compõem (tipo P e tipo N).

Para gerar o gradiente de temperatura uma carga de plutônio-238, em forma de dióxido, é armazenada no interior do dispositivo. Sofrendo decaimento radioativo, ela gera calor, até 2000 W no caso do MMRTG. Para criar o gradiente, a extremidade fria do termopar é ligada à carcaça externa, exposta para o vácuo espacial. O uso do plutônio deve-se a sua grande meia-vida, 87,7 anos, e sua baixa produção de radiação gama e nêutrons, o que exige uma proteção menor e oferece menos riscos à saúde humana durante sua montagem e no caso de um acidente durante o lançamento. Além deste também pode-se usar estrôncio-90, polônio-210, amerício-241 e curio-242 ou curio-244.

O gerador é montado com a carga de plutônio ao centro, protegida por isolantes e escudos de radiação. Ao redor deste são ligados os termopares e estes são ligados à uma carcaça metálica com aletas, para aumentar a superfície de dissipação de calor. Alguns dutos, por onde cicula um fluido refrigerante, ajudam na distribuição e dissipação do calor. O plutônio é acondicionado em capsulas, envoltas por grifite e por um outro escudo, protegendo das altas temperaturas encontradas no evento da reentrada na atmosfera terrestre. 

O gerador que o robô Curiosity usará é de uma nova geração, conhecida como MMRTG. Possui 62 cm de diâmetro, de uma aleta até a outra, 66 cm de comprimento e uma massa de 43 kg. Este gerador possui 4,8 kg de dióxido de plutônio-238, com uma produção de 110 W de energia elétrica (2200 W por dia, os painéis solares do Spirit e Opportunity produzem 600 W por dia). Sua instalação ocorreu durante os últimos preparativos para o lançamento, junto com a união dos diferentes módulos que permitirão a sonda Curiosity chegar a Marte. Como medida de segurança a cápsula, na qual o robô está, possui uma porta que permite ao técnicos acessar e remover o MMRTG em caso de emergência.

Entre os motivos de escolha desta fonte de energia para esta missão, estão a grande quantidade de instrumentos científicos e o grande tamanho da sonda, que exigem muita energia. O MMRTG forncerá um suprimento constante de energia, seja dia ou noite, durante o verão, inverno e durante as tempestades de areia. Como Marte é muito frio e os equipamentos eletrônicos necessitam ser aquecidos, uma rede de 60 m de dutos preenchidos de fluido aproveitará uma parte do calor dissipado na atmosfera e o trará para o interior do veículo.



Câmeras

A sonda Curiosity possui, no total, 16 câmeras. São elas:

Mastcam 34
Sensor: 1600 x 1200 pixels (2MP)
Distância focal: 34 mm
Imagens: 1600 x 1200 pixels. 22 cm/pixel a 1 km. 450 microns/pixel a 2m
Vídeo: 1280 x 720 pixels (10fps)
Campo de visão: 18° x 15°




Mastcam 100
Sensor: 1600 x 1200 pixels (2MP)
Distância focal: 100 mm
Imagens: 1600 x 1200 pixels. 7,4 cm/pixel a 1 km. 150 microns/pixel a 2m
Vídeo: 1280 x 720 pixels (10fps)
Campo de visão: 6° x 5°









As câmeras do mastro (Mastcam) são praticamente idênticas. Possuem o mesmo sensor CCD, produzido pela Kodak, com filtro de cor do padrão Bayer, possuem um chip de memória flash de 8GB, capaz de armazenar 5500 imagens no formato raw, possuem compressão lossless ou JPEG por hardware, autofoco (de 2,1 metros ao infinito) e um disco de filtros para obter imagens de espectro estreito (monocromática).
Esse disco, posicionado entre o sensor e as lentes, possui vários filtros, um para cada comprimento de onda: 525 nm (verde), 440 nm (azul), 675 nm (vermelho), 750 nm, 865 nm e 1035 nm(infravermelho próximo), um para permitir apontar a câmera para o sol, com o objetivo de medir a quantidade de partículas na atmosfera (ou para observações astronômicas) e o último bloqueia a luz infravermelha, permitindo obter imagens com cores próximas as reais. A diferença entre elas está no conjunto de lentes. A M34 possui uma abertura maior, gerando imagens de uma grande área, usadas para contextuar o cenário. A M100 possui um conjunto de lentes parecido com uma teleobjetiva, obtendo imagens com uma ampliação maior. As imagens destas câmeras podem ser usadas para formar um mapa em 3D.

Na parte superior do veículo há um alvo, com várias partes coloridas e um "joystick". Ela serve para calibrar a imagem da câmera, tanto em cor como em foco. Ele é visível na imagem panorâmica da estrutura, próximo ao MMRTG.








NAVCAM e HAZCAM

Navcams e Hazcams. As caixas dos eletrônicos medem 67 x 69 x 34 mm.
12 câmeras auxiliam os operadores na decisão de escolha das rotas a seguir e os computadores a desviar de obstáculos enquanto percorre a superfície. Essas câmeras já foram usadas com sucesso em Marte na missão Mars Exploration Rovers, onde foram encarregadas de desempenhar as mesmas funções que possuirão nessa missão, e na Phoeinx, onde foram instaladas no instrumento Surface Stereo Imager. A única alteração para esta missão foi a substituição dos aquecedores elétricos por unidades mais potentes, possibilitando o aumento no número de lugares possíveis de serem visitados. As 12 câmeras são divididas em dois grupos: NAVCAM, câmeras de navegação, instaladas no mastro ao lado das Mastcams, e HAZCAM, instaladas nas faces frontal e traseira do veículo. Esses dois grupos diferem entre si na parte ótica. Suas propriedades são:


                                     NAVCAM                 HAZCAM
Escala:                     0,82 mrad/pixel         2,1 mrad/pixel
Distância focal:             14,67mm                   5,58mm
Diâmetro:                      1,25mm                    0,37mm
Campo de visão:      45° x 45° graus       124° x 124° graus


Computadores

Dois computadores de bordo idênticos foram instalados no Curiosity, identificados simplesmente como A e B. Cada um possui um processador PowerPC RAD 750, com 200 MHz, 256 GB DRAM, 256 KB EPROM e 2GB de memória flash. Para efeitos de comparação o Spirit e o Opportunity possuem um processador RAD 6000 de 20 MHz, 128 MB DRAM e 256 MB de memória flash.
Durante o trabalho do Curiosity somente um dos computadores permanece ativo, enquanto o outro assume o papel de backup. A troca entre os computadores pode ser feita a qualquer momento, mas ela não é periódica. Os computadores podem operar os instrumentos e os atuadores sem qualquer alteração no código enviado pelo controle da missão. A única diferença está nas câmeras de engenharia. Cada computador possui seu próprio conjunto de câmeras, e é exclusivo. O computador B não pode usar as câmeras do computador A e vice-versa.
Esses computadores controlam todas as fases da missão, desde a fase de cruzeiro interplanetário até as operações na superfície, trocando apenas de modo de operação. Quando pousou ele estava configurado como nave espacial, após o SkyCrane liberar o robô na superfície (este também controlado pelos computadores do Curiosity) ele trocou seu estado para as operações de superfície. Também há o modo de segurança, nesse modo todos os instrumentos e atuadores são desligados a sonda fica a espera de contato do controle da missão. Esse estado é provocado geralmente por falha de software.

O software embarcado roda sobre o sistema operacional VxWorks, multitarefa, usado desde 1997 na missão Mars Pathfinder. Desenvolvido pela Wind River Systems pode rodar em processadores x86( e x86-64), PowerPc e ARM, com um ou mais núcleos, e executa programas em Ada, C, C++ e Java. Além de ser o sistema operacional das sondas de superfície também roda na Mars Reconaissance Orbiter, no Airbus A400M e no ASIMO. No total o software contém 2,5 milhões de linhas de código, totalmente em C, e pode ser atualizado a qualquer momento.




Navegação

Devido a grande distância entre Marte e a Terra, aproximadamente 55 milhões de quilômetros na melhor das hipóteses, a luz demora aproximadamente 10 minutos, na melhor das hipóteses, para alcançar Marte, partindo da Terra. Isso torna um robô teleoperado impraticável. Demorando todo esse tempo uma sonda teleoperada poderia sofrer grandes danos, por exemplo: você está dirigindo a sonda, com Marte a 14 minutos-luz, num terreno plano. De repente você avista um buraco no caminho. Não há nada que você possa fazer, quando o seu monitor mostrar o buraco sua preciosa sonda já estará em seu fundo.
Para resolver este problema você pode ensinar a sonda a evitar os obstáculos mais perigosos, criando um sistema que perceba a topografia do terreno e crie uma trajetória segura até um ponto determinado. Assim como os MER o sistema de detecção de obstáculos é baseado em visão computacional. Duas câmeras, preto e branco (hazcam), separadas aproximadamente 20 cm, obtêm imagens da superfície estereoscópicas. Processando essas fotos o Curiosity sabe onde estão os obstáculos e qual o tamanho deles e é capaz de determinar o caminho mais seguro para chegar ao destino determinado pelo controle da missão.
O sistema de navegação do Curiosity pode funcionar em três modos: cego, evitar perigo e odometria visual.
Cego – Nesse modo, quando há um modelo em 3D do terreno próximo que apresenta um trajeto livre de obstáculos e perigos, os operadores mandam o robô percorrer certa distância em uma direção. O cálculo da distância percorrida é feito somente com a quantidade de rotações das rodas (63 cm por volta). O robô não verifica sua posição com base em imagens. Ele anda até achar que chegou no lugar certo.
Evitar perigo – Quando não é possível traçar uma trajetória livre de obstáculos e/ou perigos  o robô verifica periodicamente o terreno próximo através do sistema de visão computacional, cuja frequência é determinada pelo controle da missão.
Odometria visual – Verificando as imagens anteriores com outras mais recentes o Curiosity pode descobrir qual foi seu deslocamento entre elas. O cálculo do espaço percorrido por esse método é mais preciso do que no modo cego, já que é bastante que as rodas deslizem.

Antenas

UHF – Antena destinada contatar as sondas orbitais, a Mars Reconaissance Orbiter e a Odyssey. Através dessa antena é que a maior parte dos dados gerados por essa sonda será enviada a Terra, já que as sondas orbitais possuem mais energia e antenas maiores. As taxas de transferência para a MRO é de 2Mbit/s e para a ODY 256kbit/s. O Curiosity terá 8 minutos por dia de comunicação com cada sonda.
Antena de Alto Ganho – Essa antena opera na banda X e serve para contatar a Terra diretamente. Capaz de transferir 32kbit/s. Nessa antena serão transferidos os comandos do controle da missão toda manhã para o Curiosity, mas dados podem ser transferidos no sentido inverso também, como telemetria.
Antena de baixo ganho – Destinada a comunicação diretamente com a Terra, para emergências.


Referências

Imagens: 
Todas as imagens: NASA/JPL-Caltech





- Infográfico do braço robótico e diagrama do cabeamento.

- Imagem das navcams e hazcams e imagem de demonstração das hazcam.






quarta-feira, 4 de julho de 2012

OpenROV - O robô submarino open-source


(Sam Kelly/OpenROV)

Recentemente um novo “brinquedo” apareceu no site Kickstarter. Um robô submarino chamado OpenROV. Custando US$1200 (ainda em fase de protótipo, esse valor pode cair em produção seriada) e usando partes disponíveis comercialmente, esse robô tem atraído a atenção de muitos hobbistas e cientistas, inclusive a NASA.
O projeto foi criado pelo engenheiro mecânico Eric Stackpole, almejando uma maneira fácil de explorar uma caverna, que rumores apontam esconder      um tesouro escondido. Rapidamente ele atraiu o olhar de outras pessoas, espalhadas em 50 países. Elas, além de contribuírem para o projeto, que é open-source, também pensaram nos possíveis usos dessa plataforma, indo desde o monitoramento de poluição até identificação de espécies na Antártica.

Construído majoritariamente de peças de acrílico cortadas a laser, o OpenROV possui dimensões de 30 x 20 x 15 cm, três motores brushless DC de 800kv movem o robô. Dois motores impulsionam o veículo para frente e para trás ou, com torque assimétrico, para os lados. O terceiro motor é responsável por fazer a plataforma subir ou descer, já que esta quase atinge a flutuação neutra. Um tubo transparente, de 10 cm de diâmetro por 18 cm de comprimento abriga todos os instrumentos e o computador BeagleBoard. Esse tubo é fixado com elásticos ao resto do veículo, permitindo que seu operador possa retirá-lo facilmente para corrigir erros ou retirar/adicionar componentes. Em seu interior há um suporte móvel que sustenta os instrumentos, permitindo que eles girem para cima ou para baixo. Dois tubos abrigam 8 baterias comuns tipo C, que lhe dão autonomia para aproximadamente 1h, além de servirem de lastro. Entre os tubos há um espaço para fixar instrumentos externos, graças a adição de pequenas barras metálicas.

Este robô pode ser adquirido em kit, com todas as peças mostradas abaixo (incluindo a placa BeagleBoard) ou baixar todos os desenhos e o software diretamente no site e construir o seu.

Todas as peças do kit .  (Sam Kelly/OpenROV)
Design premilinar.  (Sam Kelly/OpenROV)

Esquema elétrico do OpenROV.  (Sam Kelly/OpenROV)

(Sam Kelly/OpenROV)


(Sam Kelly/OpenROV)

(Sam Kelly/OpenROV)


Fontes:

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Planetary Resources: Arkyd Series 100

Chris Lewicki, presidente e chefe de 
engenharia da Planetary Resources (Fonte)
No dia 24 de abril de 2012 veio ao conhecimento público uma organização que promete algo que muitos entusiastas sonhavam: a mineração de asteroides. A empresa, Planetary Resources, foi formada em 2010 com o nome de Arkyd Astronautics e, em segredo, contratou alguns engenheiros para começar o planejamento do desenvolvimento de sondas e equipamentos espaciais necessários.

O primeiro equipamento da lista será um pequeno telescópio espacial chamado Leo, da série de naves Arkyd 100. O objetivo desta série é desenvolver as tecnologias necessárias para os robôs que interceptarão os asteroides, fazer um levantamento dos corpos que estão próximo a Terra, procurando os melhores (bastante água, metais e etc.) e formar o primeiro produto disponível para a empresa, onde os clientes podem obter imagens do espaço ou da Terra.

O Leo é um telescópio pequeno, planejado para ser lançado como carga secundária em um lançador, assim a empresa não precisa comprar um lançador. Muitas outras organizações seguem esta mesma estratégia de lançamentos, mais baratos, para seus pequenos satélites. O caso mais famoso é o Cubesat, satélites com 1 kg, construídos, principalmente, por universidades.

(Fonte)
O telescópio conta com um painel solar, que fornece energia suficiente para seu funcionamento, o telescópio propriamente dito, rodas de reação, sensores estelares e um laser para comunicação. A escolha das rodas de reação e da comunicação via laser deu-se devido ao menor peso dos componentes. As rodas de reação são dispositivos que aproveitam a inércia para girar o satélite e, assim, mudar sua posição, isso tudo usando somente eletricidade. Quando um motor elétrico gira um disco (a roda de reação) o motor, e consequentemente o que estiver preso a ele (o satélite e seu telescópio) irá adquirir um movimento no sentido oposto. Monitorando a intensidade desse movimento através de sensores inerciais é possível saber a velocidade angular atingida e saber quando parar. Para parar, basta interromper o giro do disco. Não é uma tecnologia nova, muitos outros satélites usam este dispositivo, até mesmo a Estação Espacial Internacional usa para pequenos ajustes. Já a comunicação via Laser evita o uso de pesadas antenas, porém está sujeita a interrupções como nuvens e o quantidade de atmosfera que ela deverá atravessar.

Vista do telescópio, de reflexão. (Fonte)
O painel solar, dividido em três placas, é totalmente visível nessa imagem. As células são, aparentemente, de silício, ao invés de Arsenieto de Gálio, tecnologia geralmente utilizada em satélites. Na parte inferior esquerda, abaixo do painel central, temos o que parece ser um sensor solar, onde o computador do telescópio pode determinar se o painel aponta diretamente para o Sol. Abaixo do aviso, em vermelho, temos o sensor estelar, usado para navegação. 





Muitas coisas incríveis vão acontecer nos próximos anos de exploração espacial. Já era tempo de aparecer alguma organização para explorar os trilhões (ou mais) de dólares contidos no espaço. Podemos, assim, finalmente abrir as portas para a exploração tripulada do sistema solar!

Fonte:
Entrevista de Chris Lewicki, feita pela GeekWire

Lunokhod


Quando alguém lhe fala algo sobre jipes robóticos que exploram outros corpos celestes você deve logo se lembrar da dupla americana Spirit e Opportunity, as duas sondas que fazem parte do programa Mars Exploration Rovers. Você também pode lembrar-se do pequeno Sojourner, parte da missão Mars Pathfinder em 1997.

Esse tipo de sonda é muito útil para explorações de superfície, já que pode se deslocar e analisar diferentes tipos de terreno, aumentando a quantidade de informações a respeito de uma região. Pode ser útil também como precursora da visita humana à um determinado local, analisando as propriedades mecânicas do solo e medir níveis de radiação e luminosidade.

Pensando nisso, a União Soviética preparou, em meados da década de 60, um programa chamado Lunokhod. O objetivo era construir um jipe robótico que seria enviado ao local de aterrissagem na Lua pretendido pelo programa tripulado soviético, em andamento nessa época. Lá o veículo colheria informações do local e serviria como um plano B. Em caso de emergência, o cosmonauta que estivesse na Lua poderia ser levado a um módulo de aterrissagem reserva, já na Lua, e voltar para a nave de cruzeiro que o esperava em órbita. Bastaria que ele subisse no veículo, já que ele seria controlado da Terra. Um auxílio adicional ao programa era que o Lunokhod poderia ajudar no pouso de ambas as naves, emitindo pulsos de rádio rastreáveis, como um farol.

Como os soviéticos tiveram problemas com a peça principal do programa tripulado, o colossal lançador N1, todo ele foi cancelado. O Lunokhod, entretanto, foi reaproveitado para um programa de exploração remota lunar, complementando o bem-sucedido programa Luna.
Testes em Simferopol (Fonte)(Fonte)



Para o desenvolvimento das tecnologias necessárias para o desenvolvimento do programa, foi construído, em meados de 1968, um campo de testes nas proximidades de Simferopol, hoje pertencente a Ucrânia. Esse local, cobrindo uma área de aproximadamente um hectare (120 x 70 m) reproduzia muitas características da superfície lunar, mais notadamente as pequenas crateras de impacto. O local foi coberto de rochas e pintado de tons de cinza.

No total quatro veículos foram construídos para serem enviados à Lua, estes receberam os nomes-código de 201, 203, 204 e 205.

A missão do Lunokhod 201 fracassou. Durante o seu lançamento pelo foguete Proton-K, em 19 de fevereiro de 1969, a sonda foi destruída com a explosão do foguete. Todos os dados referentes a carga útil deste lançador foram classificados (tornaram-se secretos) e o mundo nunca soube por muitos anos.


O Lunokhod 203, chamado oficialmente de Lunokhod 1, foi lançado em 10 de novembro de 1970, junto com seu veículo de aterrissagem Luna 17, uma versão adaptada do utilizado pela missão de retorno de amostras Luna 16. A alunissagem ocorreu em 17 de novembro de 1970, as 06h28min UTC, na região da face visível da Lua conhecida como Mare Imbrium (latim para Mar das Chuvas). Uma grande planície coberta que um dia foi coberta de lava (hoje basalto) onde também pousou a Apollo 15 em julho de 1970. Sua missão chegou ao fim no dia 4 de outubro de 1971, tendo percorrido 10.540 m e resistido há 11 dias lunares. Também enviou 206 imagens panorâmicas de alta resolução e mais de 20.000 imagens de TV.
Lunokhod 2


O Lunokhod 204, conhecido como Lunokhod 2, foi lançado em 8 de Janeiro de 1973 com o aterrizador Luna 21. Pousou na Lua com sucesso em 15 de Janeiro de 1973, as 23H35min UTC na cratera Le Monnier. Após a alunissagem, a sonda tirou algumas imagens dos arredores e desceu pelas rampas do aterrizador as 01h14min UTC do dia seguinte. Na superfície ele tirou mais algumas fotos dos arredores, inclusive do veículo Luna 21.

Ele permaneceu em funcionamento até 4 de Julho de 1973, percorrendo 37 km de terreno e enviando 87 imagens panorâmicas e mais de 80.000 imagens de TV. Ele é, ainda hoje, o detentor do recorde de maior distância percorrida em outro corpo celeste.
Lunokhod 3 (Fonte

O Lunokhod 205, ou Lunokhod 3, foi construído para ser lançado em meados de 1977, porém nunca o foi  devido a falta de lançadores e de verbas. Tanto o Lunokhod 3 quanto seu aterrizador Luna, ao qual nenhum número foi designado, estão em exposição no museum Lavochkin, mantido pelo escritório de projetos que projetou e construiu a série Lunokhod. Uma boa notícia é que, após 30 anos, este exemplar ainda funciona.



Aterrizador Luna 17 e 21

(Fonte)

Luna 25, no museu Lavochkin (Fonte)

A sonda Lunokhod não poderia chegar à superfície da Lua sozinha, pois os engenheiros precisariam incorporar a sonda equipamentos que somente seriam necessários na fase de pouso e, na já na superfície, sua única serventia seria aumentar a massa da sonda e fazê-la gastar mais energia.

Portanto os engenheiros da Lavochkin usaram o módulo de pouso, de quatro metros de diâmetro, da missão anterior, a Luna 16, que deveria pousar na Lua e retornar amostras da superfície. Acima deste seguiam o módulo de ascensão e uma cápsula onde as amostras ficariam armazenadas até sua volta a Terra.

Este módulo era composto por quatro tanques esféricos, onde eram armazenados ácido nítrico e hidrazina para os motores de foguete principais, do sistema secundário e do sistema de controle de altitude, tanques menores, com fluido de pressurização (servia para empurrar o combustível para os tanques com a pressão necessária. Geralmente é usado hélio ou nitrogênio para este fim, porém não consegui achar uma fonte que me informasse), quatro suportes, com “pés” parabólicos e amortecedores. Entre os tanques principais haviam compartimentos pressurizados onde os aviônicos (nome dado aos sistemas eletrônicos embarcados que controlam a nave) eram protegidos do ambiente espacial. Dois conjuntos de tanques de combustível extras, com seus próprios motores de foguete, foram fixados às laterais do módulo para a etapa de inserção orbital lunar. Antes de iniciar as manobras que levariam o Lunokhod a superfície, eles eram ejetados para aliviar peso. Dois sistemas de motores, principal e secundário, foram instalados para atuar em diferentes fases da missão. O motor principal era um KTDU-417 (11D417), capaz de desenvolver 18,9 kN e 314 segundos de impulso específico. O sistema secundário dispunha de quatro tubeiras dispostas ao redor do motor principal, capazes de desenvolver 3,43 kN. Os principais estavam encarregados das primeiras fases da aproximação, já os secundários atuariam quando a sonda estivesse próxima do solo.

Quanto à eletrônica abordo desse módulo estavam instalados um radar Doppler DA-018 fornecia informações a respeito da velocidade de aproximação, altitude e terreno. As informações sobre altitude eram verificadas por um altímetro, modelo Vega. Ainda havia um detector de raios gama, Kvant-2, usado para determinar se a sonda estava próxima ao solo, corroborando os dados dos outros instrumentos. Comunicava-se com a Terra através de duas antenas cônicas omnidirecionais, operando nas frequências 768 e 922 MHz.

Especificamente para as missões Lunokhod, o aterrizador recebeu dois pares de rampas, instaladas nos lados que os tanques extras não ocupavam. Sua função, obviamente, era permitir que o robô descesse do módulo Luna para a superfície lunar. Era composta por duas peças planas com duas articulações, uma no começo da rampa e outra no meio. Também recebeu uma interface especial para acomodar o Lunokhod sobre si, evitando que ele se desprendesse inesperadamente antes do momento certo.
Interface Luna/Lunokhod (Fonte)


Lunokhod
(Fonte)
Basicamente a sonda Lunokhod constitui-se de um compartimento pressurizado, onde a eletrônica de bordo e as baterias permanecem protegidas das duas condições do espaço, montada suspensão sobre rodas, cuja propulsão está sob responsabilidade de motores elétricos. Sobre esse compartimento pressurizado estão montados todos os instrumentos, antenas e o painel solar. No total a sonda pesava 840 kg, com dimensões de 135 cm x 160 cm x 170 cm (A x L x P). Descreverei mais detalhadamente os componentes a seguir.



Compartimento pressurizado

O ambiente lunar oferece muitos riscos a equipamentos para lá enviados. Os principais são a exposição à radiação cósmica e a variação de temperaturas, de 120 °C até 180 °C, que podem danificar os equipamentos eletrônicos do veículo. Para protegê-los os engenheiros projetaram um compartimento cônico onde todos os sistemas principais do veículo ficam localizados. Além disso, todos os equipamentos externos foram fixados a este compartimento, como as antenas e o retrorrefletor de laser.

Posterior da Sonda. O cilindro escuro é o RHU. Também é possível
notar o Odômetro e o Penetrômetro(Fonte)
Sua parte superior possui um formato convexo, em parte por este suportar melhor o estresse da pressão do ar no interior do veículo. Sobre ela foi montado um dos conjuntos de painéis solares do veículo e uma tampa côncava móvel, que além de abrigar o segundo conjunto de painéis solares e expô-los ao Sol quando aberta, também ajuda a isolar termicamente , quando fechada, o compartimento pressurizado durante as noites lunares.

Em seu interior a temperatura é mantida constante por um dispositivo chamado Unidade de Aquecimento por Radioisótopos (Radioisotope Heater Unit – RHU). O RHU está localizado na parte externa posterior do veículo. Constitui-se de um cilindro com uma carga de Polônio-210, dois tubos, por onde o ar pode circular, e um espelho côncavo, que evita que o veículo receba mais calor que o necessário. Seu funcionamento é muito simples. O Polônio-210 é um material radioativo que se converte em Chumbo-206 através de um processo conhecido como decaimento alfa. Além do Chumbo também é produzido calor, que é transferido para o compartimento pressurizado graças à convecção. O ar aquecido flui do RHU para a parte superior do compartimento, onde antes de aquecer os sistemas ele passa por pequenas ventoinhas, que forçam o ar quente a distribuir-se pelos compartimentos internos, ao invés de concentrar-se na parte superior.
RHU aproximadamente no centro da imagem (fonte)
O cilindro ao centro da imagem é a Unidade de Aquecimento por
Radioisótopos (RHU).  Atrás estão o velocímetro e o penetrômetro.
 (Fonte)


Rodas
Detalhe das rodas (Fonte)

A sonda dispunha de oito rodas, independentes, para locomover-se na superfície. Elas foram agrupadas em pares, dois pares de cada lado, montadas com amortecedores, motores elétricos e freios próprios. Cada par era montado em um suporte articulável, permitindo que elas acompanhassem o perfil do terreno.

As rodas tinham um diâmetro de 51 cm e eram totalmente metálicas, constituíam-se de três aros ligados a um eixo por raios, semelhando ao arranjo de uma roda de bicicleta. Os aros eram cobertos por uma malha metálica e, sobre esta, pequenos crampons foram fixados para melhorar a tração no arenoso terreno lunar.
No centro de cada roda, local em que os raios eram fixados, havia um pequeno compartimento pressurizado onde motores elétricos e os freios foram abrigados. Esses motores possuíam a capacidade de movimentar a sonda em duas velocidades, 1 km/h e 2km/h, tanto para a frente com para trás. Como as rodas não tinha a capacidade de girar no eixo vertical, igual às dianteiras de um carro, o computador girava as rodas de cada lado em sentidos opostos, caso este estivesse parada, ou em velocidades diferentes, no caso de estar em movimento, como num tanque de guerra. E, ainda, para evitar que as peças fundissem juntas, um lubrificante baseado em fluoreto foi desenvolvido, já que os disponíveis evaporavam no espaço.

Caso algum motor falhasse, e a roda travasse, os controladores poderiam acionar uma pequena carga explosiva no interior dos compartimentos dos motores para destruir o eixo e deixar a roda livre. Eles poderiam repetir esse processo com algumas rodas, já que para conseguir se movimentar eram necessárias somente duas rodas.

Câmeras

Uma das principais diferenças entre os Lunokhods estava nas câmeras. O Lunokhod 1 possuía dois tipos de câmeras: Panorâmicas e câmeras de TV. O número de câmeras panorâmicas manteve-se constante nos três robôs, um par de cada lado para cada robô. Seus sensores consistiam numa única linha de CCD (Charge-Coupled Device, semelhante ao das câmeras digitais atuais) apontada para um espelho móvel. Funcionavam do seguinte modo: o sensor começava a varredura a partir de uma das laterais, então o espelho girava em direção a outra extremidade da câmara, de modo que os pixels da varredura seguinte fossem adjacentes ao da anterior. As câmeras verticais eram capazes de retornar imagens cobrindo um campo de visão de 180° e as horizontais 360° (a resolução de suas imagens era de 500 x 6000 pixel), incluindo o céu e as estrelas, o solo, as rodas e um dispositivo que media a inclinação do veículo. Duas dessas câmeras podiam transmitir suas imagens ao mesmo tempo, em subportadoras de 130 kHz e 190 kHz.
Panorâmica do Luna 21 feito pelo Lunokhod 2 (Fonte)

Panorâmica do Luna 21 feito pelo Lunokhod 2 (Fonte)


As câmeras de TV foram instaladas com o propósito de prover o piloto do Lunokhod uma visão do solo imediatamente a frente do robô. Essas câmeras forneciam vídeo de 250 linhas com 10 quadros por segundo. O Lunokhod recebeu câmeras de TV melhores, além da adição de uma terceira câmera, acima das outras duas, para fins de navegação. Estas câmeras possuíam maior resolução e podiam gravar imagens com um tempo de 3,2, 5,1, 10,9 e 21,1 segundos por quadro.

Instrumentos
Diagrama do Lunokhod 2 e de seus instrumentos (Fonte)


Lista de instrumentos do Lunokhod-1
-Câmeras (2 de TV e 4 panorâmicas)
-Espectrômetro de Fluorescência de Raios-X
-Telescópio de Raios-X
-Odômetro
-Penetrômetro
-Detector de Radiação
-Refletor de Laser

Instrumentos do Lunokhod 2

- Câmeras (3 de TV e 4 panorâmicas)
- Espectrômetro de Fluorescência de Raios-X
- Telescópio de Raios-X
-Odômetro
-Penetrômetro
-Detector de Radiação
-Refletor de Laser
- Astrofotômetro UV/Luz visível
- Magnetômetro
- Fotodetector
- Sistema de Análise do Solo

O Odômetro permitia o cálculo da distância total percorrida e da velocidade do veículo, já que as rodas principais poderiam escorregar na superfície devido a sua tração. O Penetrômetro media as propriedades mecânicas do solo. O refletor de Laser, construído na França, permite que um pulso de laser enviado da Terra possa retornar. Com isso pode-se calcular a distância Terra-Lua com precisão de centímetros e esse instrumento pode ser usado até os dias atuais. O Astrofotômetro media a intensidade da luz no local onde estava e o Sistema de Análise de Solo emitia particular alfa em direção ao solo, para determinar sua composição. Quando era necessário usar esse equipamento o instrumento era baixado até o solo.


Noite Lunar

O dia lunar difere muito do dia terrestre. Como a Lua sofreu acoplamento de maré, sempre apresenta a mesma face para a Terra, portanto um dia tem a mesma duração de uma órbita ao redor da Terra, aproximadamente 27 dias. Para piorar a situação à noite, com duas semanas de duração, as temperaturas podem atingir -170°C ou menos, danificando qualquer sistema eletrônico que não esteja adequadamente protegido.

Para enfrentar esse problema os engenheiros da Lavochkin incluíram alguns dispositivos para manter a temperatura no interior da sonda dentro de níveis aceitáveis, alguns dos quais eu já citei, como o RHU e a cobertura móvel com painéis solares.

Quando a noite se aproximava, os controladores posicionavam o veículo em direção ao sol para aumentar a carga das baterias. Terminado esse processo ele era girado para o lado oposto, onde o sol nasceria no próximo dia, de modo que o os painéis pudessem aproveitar o máximo de luminosidade quando fosse reaberto. A tampa era fechada, para aumentar o isolamento térmico do veículo, a antena helicoidal apontada para a posição onde a Terra iria estar quando o dia nascesse e todos os sistemas desligados. Somente continuavam funcionando aqueles necessários para reativar a sonda.


Perfil da Missão
Ilustração do esquema de pouso (Fonte)


Os Lunokhods foram enviados ao espaço através de foguetes Proton-K. Chegando ao espaço a sonda entrava numa órbita de espera, porém não chegava a completa-la. Um impulso feito pelo motor do último estágio do lançador fornecia energia suficiente para a sonda entrar numa órbita de transferência, cujo apogeu dar-se-ia nas proximidades da Lua. Quatro dias e meio e algumas correções de trajetória depois a sonda preparava sua injeção orbital. Para isso acontecer os controladores viravam sua “parte de baixo”, direção para onde os motores dos tanques extras encontravam-se e disparavam até a velocidade do conjunto ser baixa o suficiente para a Lua ser capaz de captura-la, porém suficientemente alta para manter uma órbita de aproximadamente 100 km x 90 km, com 60° de inclinação e um período de aproximadamente duas horas. Essa manobra é necessária, pois a Lua não seria capaz de capturar um objeto com tamanha energia. Caso contrário ela voltaria para a Terra dias depois ou sua velocidade aumentaria com o “efeito estilingue” lunar e permaneceria por anos em órbita heliocêntrica.

Em órbita lunar, medições precisas da trajetória foram realizadas com o radar Doppler da nave Luna e os tanques extras, agora vazios, eram descartados. Terminado esse processo um disparo do motor principal reduzia a perilua (correspondente do periastro) para um valor entre 15 e 21 km, e sua apolua (apoastro) permanecia em 100 km.

Ajustes nos instrumentos eram realizados e, 40 órbitas depois, outro disparo no motor principal, de 5 a 6 minutos, retira a sonda de órbita e a manda diretamente para o local de pouso desejado. Devido à baixa gravidade lunar, a sonda continuava em queda livre até que chegasse a uma altitude de 700 m. Nesse instante ou motores secundários assumiam a responsabilidade de diminuir a velocidade da sonda.

A 20 metros da superfície e velocidade de 2 m/s os motores secundários são desligados e a sonda cai auxiliada pelos motores de manobra. Entre 3 e 2 m de altura os motores auxiliares seriam cortados quando raios gama fossem detectados pelos sensores Kvant-2, assegurando que o pouso ocorresse a 5m/s. Concluído o pouso, o aterrizador estendia suas rampas e sua missão chegava ou fim.

Os controladores ativavam o Lunokhod e recolhiam algumas imagens dos arredores, de modo a decidir qual rampa oferecia melhores condições. Algumas horas depois, através do um comando feito em um joystick, a sonda atravessava a rampa e atingia a superfície lunar. Mais algumas imagens dos arredores eram feitas, algumas inclusive do aterrizador, fornecendo dados muito úteis aos engenheiros que desenhariam as próximas missões.
Controle da Missão (Fonte)

Controle da Missão (Fonte)

Infográfico Lunokhod 2 (Fonte)


Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/Lunokhod_1
http://en.wikipedia.org/wiki/Lunokhod_2
http://en.wikipedia.org/wiki/Lunokhod_programme
http://danielmarin.blogspot.com/2010/03/las-huellas-sovieticas-en-la-luna.html
http://danielmarin.blogspot.com/2009/07/recordando-al-luna-15.html
http://www.astronautix.com/craft/lunokhod.htm
http://www.astronautix.com/craft/lunaye8.htm
http://www.zarya.info/Diaries/Luna/Luna17.php
http://www.mentallandscape.com/V_Cameras.htm (informações sobre as câmeras)